Quero uma sapatão para presidenta

rafael leopoldo
2 min readOct 10, 2016

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Zoe Leonard

Quero uma sapatão para presidenta. Quero uma pessoa com Aids como presidenta, e quero um bicha como vice-presidente, e quero alguém sem seguro médico, e quero alguém que tenha crescido num lugar onde a terra estava tão contaminada com resíduos tóxicos que não terá outra escolha a não ser ter leucemia. Quero uma presidenta que tenha abortado com dezesseis anos, e quero um candidato que não seja o mal menor, e quero uma presidenta que tenha perdido o seu último amante por causa da Aids, que teve seu amante nos braços e soube que estava morrendo, e que siga vendo isso nos seus olhos a cada momento que se deita para descansar. Quero uma presidente que não tenha ar condicionado, um presidente que tenha ficado em pé na fila de um hospital, que tenha ficado parado no congestionamento, que tenha perdido a seguridade social, e que tenha estado desempregado, que tenha sido demitido, que tenha sido assediado sexualmente, e que tenha sofrido assédio por ser bicha, sapa ou trans, e que tenha sido deportado ou deportada. Quero alguém que tenha passado a noite entre as tumbas, e que tenha colocado uma cruz em chamas no seu gramado, e que tenha sobrevivido a um estupro. Eu quero alguém que tenha amado e se machucado, alguém que respeito o sexo, que tenha errado e que tenha aprendido com os erros. Eu quero uma mulher negra para presidenta. Quero alguém com os dentes estragados, alguém que tenha provado a péssima comida de um hospital, alguém que se travista, que tenha usado drogas e feito terapia. Eu quero alguém engajado numa desobediência civil. E quero saber por que isso não é possível. Quero saber porque nós aprendemos que em algum lugar o presidente é sempre um palhaço: sempre um cafetão e nunca uma puta. Sempre um patrão, nunca um trabalhador, sempre um mentiroso, sempre um ladrão que nunca é pego.

Tradução por Rafael Leopoldo.

Buffalo Queer.

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